A Inteligência Artificial tem assumido um papel cada vez mais preponderante na adoção das práticas ESG. Como utilizar esta tecnologia em cada um dos pilares?
À medida que a sociedade se torna mais consciente do seu impacto no mundo, as considerações ESG (do inglês, Environmental, Social, Governance) estão a tornar-se cada vez mais importantes na definição das práticas empresariais e das decisões de investimento. As organizações que abordam proactivamente as preocupações ESG, não só contribuem para um mundo mais sustentável e equitativo, como também se posicionam para o sucesso a longo prazo num mercado cada vez mais focado neste novo paradigma.
A Inteligência Artificial (IA), como outra grande tendência da atualidade, tem assumido um papel cada vez mais preponderante na adoção das práticas ESG, como facilitadora e catalisadora de iniciativas dentro das organizações. Vejamos os seus casos de utilização em cada um dos pilares ESG.
Pilar Ambiente (E)
Todos procuramos novas respostas para acelerar os nossos objetivos de sustentabilidade, e hoje é claro que estas vão passar por uma dependência cada vez menor dos combustíveis fósseis, mas tal não será suficiente. A transição para as energias renováveis tem de ser realizada de forma eficiente e eficaz, potenciando ao máximo todos os benefícios que lhe são reconhecidos.
Conscientes dos desafios inerentes à transição energética, mas também das vantagens da IA, as organizações estão cada vez mais a integrar modelos suportados nesta tecnologia. Como exemplo, no nosso software para a gestão de parques eólicos Renewables Management System (RMS), incluímos diversos modelos suportados em IA que permitem uma gestão proativa e eficiente dos ativos renováveis, fornecendo uma maior visão das operações e uma análise precisa sobre os principais indicadores de desempenho e a sua evolução; esta solução facilita a tomada de decisões estratégicas em tempo útil, o que leva a uma maior eficiência, redução do tempo de inatividade e desempenho otimizado.
Pilar Social (S)
De acordo com as Nações Unidas, o grupo etário que mais irá crescer nos próximos anos será o dos 65 ou mais anos. Atualmente, 1 em cada 11 pessoas está nesse grupo e prevê-se que, em 2050, esse rácio seja de 1 em cada 6. Essa alteração irá provocar diferentes níveis de pressão sobre os serviços, cuidados de saúde e necessidades de cadeia de abastecimento, e será complicado assegurar capacidade humana suficiente para suportar essas áreas, caso se mantenham os atuais processos. A IA, nomeadamente a IA generativa, terá um papel crucial em assegurar as funções passíveis de serem substituídas.
Pilar Governação (G)
Os métodos tradicionais de análise de risco já não conseguem lidar com o volume cada vez maior de dados, especialmente em ambientes regulamentares voláteis ou omissos. É necessário efetuar uma análise formal dos riscos, associando uma finalidade em todas as fases da utilização da IA ao fim a que se destina. Como forma de mitigar os riscos, são necessárias ferramentas (metodológicas, técnicas, estratégicas) que garantam o respeito dos princípios éticos da IA.
Assim, torna-se urgente garantir que a IA seja desenhada com o rigor científico tipicamente atribuído às investigações académicas, inclua um código de conduta (que defina princípios de transparência, imparcialidade, privacidade, segurança e responsabilidade moral em cada fase do processo), e se centre no suporte à tomada de decisão pelo ser humano.
Pedro Machado
Vice Presidente de Consulting Services Energy & Utilities
Publicado originalmente na revista Exame, Dezembro de 2023